O Verdadeiro Significado de Educar na Palavra
- Wilson e Karol Negrizolo

- 20 de out.
- 5 min de leitura
Uma análise profunda de Provérbios 22:6 e da responsabilidade espiritual de pais e educadores na formação cristã das crianças.
A educação infantil, segundo as Escrituras, vai além de instruir boas maneiras ou de promover
comportamentos morais aceitáveis. Ela se fundamenta em um treinamento espiritual inaugural,
orientado pela Palavra de Deus, pela ação do Espírito Santo e pela prática da confissão da fé.
Esse princípio é claramente apresentado em Provérbios 22:6: “Educa o menino segundo o seu caminho; mesmo quando envelhecer, não se desviará dele” (ARA). O presente artigo tem como objetivo expor o verdadeiro significado desse mandamento bíblico, explorando suas bases hebraicas e midráshicas, sua aplicação espiritual e suas implicações práticas no ministério infantil e na formação cristã da criança.
Fundamento Hebraico e Midráshico
O verbo hebraico chanéch ( ךנח ), traduzido como “educar”, carrega o sentido de iniciar, consagrar ou colocar sob disciplina. O Midrash Mishlei estabelece uma analogia com o ato de colocar o jugo sobre o boi jovem. O animal, que não nasce domesticado, precisa ser treinado para o trabalho, mesmo contra sua vontade. Da mesma forma, a criança necessita de formação e disciplina espiritual desde cedo, a fim de ser direcionada para o caminho da justiça.
O Exército de Cristo
A Escritura associa o processo de formação espiritual ao treinamento militar. O apóstolo Paulo
exorta: “Sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus” (2Tm 2:3). Assim, a criança, como
futuro discípulo, soldado de Cristo, precisa ser treinada espiritualmente para a submissão à
Palavra de Deus (Ef 6:10-17), para a obediência à verdade (Rm 6:17) e para o desenvolvimento
do caráter de Cristo. Esse processo educativo não é opcional, mas essencial para que ela cresça como soldado espiritual, capaz de resistir às pressões do mundo e permanecer firme na fé.
Educação Bíblica no Antigo e no Novo Testamento
A Bíblia apresenta a educação como um princípio que deve acompanhar o indivíduo desde a
infância. O livro de Provérbios declara: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixes a
instrução de tua mãe” (Pv 1:8); e ainda: “Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos, e o teu
coração guarde os meus mandamentos” (Pv 3:1). De modo semelhante, o capítulo 4 reforça:
“Ouvi, filhos, a instrução do pai; estai atentos para conhecerdes o entendimento” (Pv 4:1).
No contexto da aliança mosaica, a instrução deveria ser uma prática diária e contínua, como
afirma Deuteronômio 6:6-7: “Estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as
inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te”. Já no Novo Testamento, Paulo orienta os pais: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6:4).
A Responsabilidade dos Pais
A responsabilidade primária pela educação espiritual pertence aos pais. A escola bíblica infantil
é um complemento, mas nunca um substituto dessa tarefa. Cabe aos pais ensinar a Palavra em todo tempo, viver como exemplos de fé e criar um ambiente em casa onde a confissão da Palavra seja parte da vida cotidiana. Nesse sentido, educar a criança é também introduzi-la na realidade da Nova Aliança, como afirma Hebreus 8:6: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas”.A Origem Espiritual da Criança
Uma questão importante na teologia da infância é a interpretação do Salmo 51:5: “Eu nasci na
iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. Esse texto é frequentemente utilizado para
sustentar a ideia de que a criança já nasce espiritualmente morta, herdeira do pecado original.
Todavia, uma análise exegética revela outra realidade. A expressão hebraica “bavon cholalti” (na iniquidade fui gerado) associa-se à condição do mundo no qual o ser humano nasce, e não a uma condenação espiritual intrínseca. Já a frase “uvechet yetzaratni imi” (em pecado me concebeu minha mãe) refere-se ao ambiente humano corrompido, não ao espírito formado por Deus. Davi, nesse salmo, expressa a profundidade de sua consciência de pecado após o episódio com Bate-Seba. O texto é poético e confessional, não uma doutrina sistemática sobre a natureza da criança. Outras passagens corroboram essa leitura. Ezequiel 18:20 afirma: “A alma que pecar, essa morrerá”, mostrando que cada indivíduo é responsável por sua própria escolha. Deuteronômio 1:39 declara que as crianças “não sabem discernir entre o bem e o mal”, reforçando a ideia de inocência moral. Zacarias 12:1 apresenta Deus como Aquele que forma o espírito humano, evidenciando que este não pode ser criado espiritualmente morto. Por fim, em 2 Samuel 12:23, Davi, ao falar da morte de seu filho, diz: “Eu irei até ele, porém ele não voltará para mim”, demonstrando a convicção da salvação infantil.
A Condição da Criança e a Idade da Responsabilidade
A Bíblia ensina que a morte espiritual não ocorre no nascimento, mas quando o indivíduo atinge consciência moral e rejeita a verdade. Paulo confirma essa ideia em Romanos 7:9: “Eu vivia sem lei, mas sobrevindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri”. Assim, a criança permanece espiritualmente viva enquanto inocente, sendo salva até alcançar a idade da razão, quando então precisa de salvação consciente pela fé em Cristo.
O Espírito Santo, em sua graça, é quem convence o indivíduo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Portanto, a promessa de Provérbios 22:6 — “não se desviará dele” — está condicionada ao fato de a criança ser devidamente instruída e treinada no caminho da Palavra. Não se trata de uma profecia determinista, mas de uma promessa vinculada à fidelidade do ensino e à semeadura espiritual feita pelos pais e educadores.
O Ensino de Jesus sobre as Crianças
Os Evangelhos reforçam a dignidade espiritual da infância. Jesus declarou: “Deixai vir a mim os
pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o Reino de Deus” (Mc 10:14). Ele também
afirmou: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará
nele” (Mc 10:15), e ainda: “Quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe” (Mt 18:5). Esses textos revelam que a criança não apenas é aceita diante de Deus, mas também serve como modelo para a vivência da fé e da simplicidade do Reino.
Conexão com a Teologia da Palavra da Fé
A Palavra da Fé enfatiza a centralidade da confissão. E.W. Kenyon afirma: “A fé retém firme a
confissão da Palavra”, enquanto Kenneth E. Hagin declara: “O espírito é mais importante que a
mente”. Esses princípios devem ser aplicados à formação infantil, pois a criança não é apenas um ser moral, mas espiritual. Ela precisa ser ensinada desde cedo a confessar a Palavra, estimulada a viver pela fé e introduzida à realidade da nova criatura em Cristo (2Co 5:17).
Conclusão
Educar na Palavra é colocar o jugo de Cristo sobre a criança. Esse jugo, embora real, é leve:
“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11:29). Disciplinar não é castigar, mas iniciar no
caminho da fé. Aos professores do Departamento Infantil, cabe ensinar com intencionalidade espiritual, utilizando a confissão da Palavra em cada atividade, criando ambientes de discipulado e sendo modelos de submissão ao Espírito. Práticas simples, como conduzir as crianças a declarar: “Eu sou forte no Senhor” (Ef 6:10) e “Maior é o que está em mim do que o que está no mundo” (1Jo 4:4), ou ainda a realização pedagógica de uma Ceia simbólica com pão sem fermento e suco de uva, podem marcar profundamente a formação espiritual.
A missão do ensino infantil, portanto, é clara: colocar o jugo de Cristo sobre cada criança desde cedo, conduzindo-a em amor, verdade e autoridade espiritual, para que cresça firme no caminho do Senhor e não dele se desvie.
Comentários